A deputada federal Flordelis teve seu mandato cassado, na tarde desta quarta-feira, durante votação no plenário da Câmara dos Deputados. A votação teve início às 17h10. Ao todo, foram 437 votos a favor da perda do mandato e sete contra, além de 12 abstenções. O relator Alexandre Leite pediu a cassação do mandato por quebra de decoro parlamentar e foi seguido pela maioria dos deputados federais. O quantitativo pela perda do cargo superou a maioria absoluta de votos (257): exigência para o veredito final. Flordelis responde criminalmente pelo assassinato do pastor Anderson do Carmo, que era seu marido e foi executado, na casa em que moravam, em São Gonçalo, com mais de 30 tiros, na madrugada de 16 de junho de 2019.
O relator destacou a independência de instâncias e que o processo na Câmara não se refere ao fato criminal, mas à quebra de decoro parlamentar. Segundo o relator, Flordelis usou de seu mandato como deputada federal para coagir testemunhas e ocultar provas do processo ao fazer uso de documento falso para alterar ‘as verdades dos fatos’. O documento citado pelo relator é uma carta que teria sido entregue a Lucas, um de seus filhos, na cadeia, para que ele a copiasse, assumindo responsabilidades pelo crime.
“A carta foi copiada por Lucas a fim de alterar a verdade sobre os fatos, eis que a execução do crime e sua orientação ideológica passassem a ser atribuídas a pessoas diversas. Para isso, ela teria usado de seu prestígio como deputada federal com a promessa de que iria ajudar Lucas em sua defesa caso ele assumisse a autoria do crime, pois teria acesso a ministros de cortes superiores e outras autoridades, o que configura a quebra de decoro”, destacou o deputado relator Alexandre Leite (DEM-SP).
O relator também citou participação de Flordelis na compra da arma utilizada no crime. E mensagens de celular, obtidas após quebra de sigilo durante as investigações, que teriam sido trocadas entre Flordelis e seus filhos.
“Constatou-se que nem Lucas nem Flávio teriam condições de adquirir R$ 8.500 para comprar o armamento utilizado no crime. Somente ela teria condições financeiras para adquirir a arma de fogo. Também configura quebra de decoro mensagens de Flordelis, que demonstram frieza, como: ‘Fazer o quê? Separar não posso, pois não posso escandalizar o nome de Deus’ e, dirigindo-se a André, seu filho: ‘André, pelo amor de Deus, vamos pôr um fim nisso. Até quando vamos ter que suportar esse traste em nosso meio?”
O relator concluiu:
“As provas coletadas tanto pelo Conselho de Ética quanto no curso do processo criminal demonstram que Flordelis teve conduta não condizente com o que se espera de um representante do povo. O que a gente percebe como conclusão é que essa versão idílica de pessoa generosa, altruísta, foi descortinada para dar lugar a uma personalidade manipuladora e perigosa”
Flordelis também discursou no plenário. Ela negou ter escrito a carta citada pelo relator, e reafirmou sua inocência no assassinato:
“A minha defesa que está aqui tem elementos suficientes para provar que eu não escrevi carta alguma. Se eu perder o mandato, eu saio de cabeça erguida, pois eu serei absolvida pelo júri. Quando isso acontecer vocês irão colocar a cabeça no travesseiro e se arrepender por ter condenado alguém que ainda não foi julgada”.
“Vou continuar lutando para garantir minha liberdade e a liberdade dos meus filhos e da minha família, que está sendo injustiçada. teve filhos meus que erraram, mas não foram todos. Mas toda a minha família está sendo criminalizada, eu não posso e não devo pagar pelos erros de ninguém. A Flordelis que está aqui está destruída”, acrescentou Flordelis.